Solenidade da Santíssima Trindade (2008)

A meu ver, a homilia de hoje é uma das mais difíceis de  realizar.  Dado o que disse Santo Agostinho: “... é mais fácil colocar o mar num buraco na areia que compreender o mistério da Santíssima Trindade”.

Estamos meditando a respeito de um mistério divino, que mesmo sendo revelado continua sendo um mistério, diferente do mistério humano, que revelado deixa de ser mistério.

A solenidade de hoje nos revela o aspecto específico da nossa fé: nós acreditamos em Deus-Trindade, isto é, um único Deus, mas três pessoas distintas e cada uma delas com suas características:

O Pai: é Ele quem criou o universo e que o governa com sabedoria e amor.

O Filho: é o Verbo Encarnado (como nos diz o prólogo de São João, a Palavra, isto é, a Palavra Encarnada), Jesus Cristo.

Deus na plenitude do tempo veio a este mundo e tornou-se um de nós, assumiu toda a nossa condição humana, menos o pecado. Ele nos traz a salvação.

O Espírito Santo: o Paráclito enviado pelo Filho. Pois, na solenidade da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, meditada há uns quinze dias atrás, a conclusão do evangelho de São Lucas nos relatou o que Cristo disse aos seus discípulos: “Eu enviarei sobre vós Aquele que meu Pai prometeu”, ou seja, o Espírito Santo. É Ele quem nos dá forças na caminhada, age em nossos corações e concede o espírito do discernimento. Também, sendo Dom é autor dos dons e carismas que encontramos no seio da Igreja.

A grosso modo, o Pai é aquele que nos criou, o Filho é aquele que nos remiu e o Espírito Santo é aquele que nos santifica.

Sabemos que nosso Deus não é uma única pessoa. São três pessoas, com uma única essência ou natureza. E isso nós podemos conferir na Sagrada Escritura, tanto no Antigo como no Novo Testamento: no livro do Gênesis 1,26: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança”; em São Mateus 28,19: “... batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

As leituras desse domingo nos falaram da Trindade, para recordar-nos o amor que Deus tem por nós, para manifestar-nos o seu projeto de salvação.

Na Santíssima Trindade, encontramos alguns aspectos para falar dessa união trinitária:

I. São três pessoas inseparáveis, cada pessoa vive na outra sem se separarem;

II. Elas vivem em comunhão, isto é, a suprema vida divina é essa comunhão trinitária;

III. As três pessoas agem sempre juntas, ou seja, as pessoas na Trindade agem simultaneamente, mas cada uma a seu modo. Deus age pelo Filho no Espírito;

IV. A consubstancialidade, um termo derivado do grego (homooúsios) que serve para falar das duas naturezas de Jesus, divina e humana.

A solenidade de hoje nos propõe uma reflexão a respeito da Identidade do Deus cristão, ou seja, do nosso Deus. Não é suficiente afirmar a fé em Deus, mas em que Deus acreditamos. Será um Deus-Amor? Será um deus-castigador? Será um deus-poder? Será um deus-riqueza?

É necessário conhecer bem o nosso Deus e saber claramente em que consiste acreditar no Deus-Trindade. Não só ter conhecimento, mas viver, experimentar e testemunhar esse amor justo e misericordioso. Só se pode conhecer Deus experimentando esse amor trinitário.

Quem é Deus?

Utilizamos conceitos para falar de Deus porque somos limitados, então usufruímos desses atributos para compreender um pouco quem é Deus. Assim chamamos Deus: Perfeição, Infinidade, Simplicidade, Imutabilidade, Onisciência, Onipresença, Onipotência... Simplesmente para tentar compreendê-lo. Santo Tomás de Aquino diz: “Deus é um ser subsistente”.

Deus não é um conceito, uma teoria, uma definição. Ele é uma comunidade de amor. É impossível entender o mistério do Senhor sem uma experiência concreta de amor-comunhão.

É a esse Deus Uno e Trino que devemos dar uma resposta de fé, porque é Ele que nos chama à santidade: “Sede santo, porque Eu sou santo”. E santidade não indica separação e sim comunhão, doação e partilha.

Quero dizer meus irmãos, que as características da Santíssima Trindade (Relação de amor e a comunhão), podem ser identificadas em nossa comunidade cristã, isto é, a comunidade onde vivemos, onde estamos agora. Também nas famílias, quando há diálogo, amor, compreensão e colaboração.

Diante dos próprios semelhantes, isto é, os homens diante dos homens, se vangloriam das próprias capacidades, da própria força, das próprias conquistas, dos próprios bens.

Mas, diante de Deus, o que podem apresentar de valioso?

Dizia São Paulo: “Se o homem olhar unicamente para si mesmo, só encontrará um motivo para gloriar-se: a própria fraqueza. Contudo, isso não deve conduzir-nos ao desânimo, mas à confiança no amor de Deus, fazendo surgir a Esperança em nossas vidas. 

Que o Espírito Santo mova a humanidade para a experiência desse amor, para que sejamos vossos verdadeiros herdeiros juntamente com Cristo, nosso irmão.

Diácono Edgar Domingues - Par. Sagrado Coração de Jesus