Lutando pelo direito à vida desde 1939 - Texto de Lídia Walder

Todos os dias ligo a TV na Rede Vida a partir das 18h e ali fica até o final da Novena do Pai Eterno. Hoje, entre as notícias, Dom Odilo Pedro Scherer falava sobre o direito à vida, e, entre suas reflexões elogiou uma instituição sob a responsabilidade da Arquidiocese de SP, que tem um significado particular para mim: o Amparo Maternal e me fez viajar no tempo e ir lá para a Semana Santa de 1964.

Participava da JEC no colégio e nosso grupo decidiu que naquele ano, nosso gesto concreto como cristãos seria colaborar com alguma entidade filantrópica ou assistencial. A escolhida foi o Amparo Maternal, localizado na Rua Loefgreen, 1901 - Vila Clementino.

Lembro que algumas vezes levamos roupas, alimentos, mas lembro-me em especial, da Sexta feira Santa daquele ano. A casa estava em reforma do piso para a festinha de meu noivado no dia 1º de maio.  Meu noivo chegou com muitos ovos de Páscoa que comprara na Lacta e se misturava o cheiro da massa de areia e cimento e do chocolate, naquela tarde fria e chuvosa.

Logo fomos ao encontro do pessoal da JEC do C E Prof. Alberto Conte para levar tudo o que havíamos arrecadado para alegrar um pouco aquelas pobres mães. 

Foi a primeira vez que entrei naquela instituição e creio que devido à minha inexperiência das coisas da vida, o que vi e ouvi ali me marcou demais.

Meninas com bonecas de carne e osso nos braços. Quase crianças prestes a parir outras crianças. Farrapos humanos, desgrenhadas, andando de um lado para o outro, alucinadas pela dor e acho até sem entender bem o porquê da dor. (hoje já nos habituamos a vê-las pelas ruas, mas naquele tempo...).

Na década de 90, meu marido administrava a empresa responsável pelos estacionamentos da Cúria Arquidiocesana – um deles, no Amparo Maternal. Outra vez tive a oportunidade de voltar ali, mas só ficava do lado de fora vendo o entra e sai das mulheres grávidas.

Senti vontade de compartilhar neste site essas minhas impressões e dar o meu testemunho de que quando se tem vontade tudo é possível e, num momento em que tanto se fala sobre o aborto, nada mais justo, como disse o Cardeal, do que parabenizar essa instituição que sempre lutou pelo direito à vida e assistência àquelas que, sem condições, levam sua gravidez a termo e permitem que novas criaturas, filhos de Deus, vivenciem a espetacular experiência do dom da VIDA.

Breve histórico do Amparo Maternal

20 de agosto de 1939, um grupo de pessoas liderado pelo então Arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar de Alfonseca e Silva e pela Religiosa Franciscana Madre Dominequè, fundou o Amparo Maternal, sensibilizado pelo número de gestantes que viviam pelas ruas de São Paulo, sem teto e sem ter onde ficar ou lugar para dar à luz.

O evangelista Lucas, (2-6) aponta o nascimento de Cristo: "Reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para Ele na estalagem". Assim, o Amparo Maternal procura manter seu principio fundamental: Nunca recusar ninguém.

Com esta obra, a Entidade procura dar sustentação às mães que, mesmo sem condições, diante de uma gravidez decidem ter o filho.

No começo, foram alugadas casas onde as gestantes ficavam até terem o bebê e conseguirem recursos para sua sobrevivência. No entanto, com o crescimento da cidade, o número dessas mulheres também aumentava, principalmente por falta de apoio da sociedade.

Iniciou-se então, um trabalho junto à prefeitura para que se providenciasse uma construção para albergar todo tipo de gestantes: psicopatas, andarilhas (sem teto), migrantes (a grande maioria), etc. 

Em 1945, o então prefeito de São Paulo, Prestes Maia, percebendo a necessidade da obra, dado o desordenado crescimento de São Paulo, iniciou a construção, em terreno do Município, do prédio que apenas 19 anos depois seria inaugurado pelo Governador Dr. Ademar de Barros.

De princípio, o plano de construção não previa Maternidade. Porém, com o desenvolvimento das necessidades da Previdência Social, com a recusa dos Hospitais Particulares, com as mães desprivilegiadas sendo rejeitadas pelos hospitais de São Paulo, foi necessário construir a área hospitalar, tomando-se assim a única entidade médica social existente no Brasil e na América Latina. 

Houve dias que, devido ao descaso (como a saúde do país sempre foi tratada), nasceram 125 crianças em 24 horas, (como na véspera de Natal de 1973).

Entre 1972 e 1975, quando as reformas de maternidades municipais restringiram o atendimento, no Amparo Maternal nasciam, quase que ininterruptamente, 60 crianças diariamente.

No site da entidade: www.amparomaternal.org, podemos encontrar informações, curiosidades e a explicação de todo o funcionamento da Entidade. 

Lidia Walder
Equipe SCJ