Primeira Leitura: Êx 17,3-7

Salmo: Sl 94

Segunda Leitura: Rm 5,1-2.5-8

Evangelho: Jo 4,5-15.19b-26.39a.40-42

Sede física e discórdia. Os dois temas principais da Liturgia da Palavra deste terceiro domingo quaresmal.

Por incrível que pareça, Deus permite que o seu povo passe pela necessidade mais básica de qualquer ser humano: a falta de água. Com isso, aqueles homens entram em litígio com Deus e, por conseguinte, entre si.

Homens, que por ficarem presos em seus sofrimentos, não confiaram em Deus e, por isso, não puderam entender que Deus iria salvá-los, dando-lhes água, de um lugar inimaginável: da pedra.

Tal acontecimento serve de lição para todos os cristãos e todos os homens tomados pelo desespero que os seus problemas causam em suas vidas. Problemas que, muitas vezes, acarretam o afastar-se de Deus e, por causa, disso, a discórdia entre os homens.

Deus, que é Pai, mostra, com essa leitura, que não é indiferente aos problemas humanos e só espera uma atitude de confiança filial para que Ele possa resolvê-los de uma forma simples, porém, surpreendente.

Quando não existe confiança em Deus não existirá a confiança nos homens! Por causa disso a discórdia invade as relações que deveriam ser fraternas.

Um exemplo de discórdia da humanidade é a rivalidade que existia entre judeus e samaritanos. Os primeiros julgavam que os últimos não deviam adorar o Deus de Israel por causa da infidelidade que cometeram ao se renderem aos cultos pagãos da Assíria no período do século VIII.

No fim do período exílico da Babilônia, os samaritanos procuram unir-se aos judeus para a reconstrução do Templo. Mas, considerados impuros, pelos judeus, são proibidos de adorar Deus no mesmo Templo, por isso, fundam no Monte Garizim um outro local de adoração, cujos ritos dispensavam a Lei da Tora.

Em tal disputa um povo queria mostrar para o outro que era mais santo. Possuíam o interesse de provar um ao outro que estava mais certo ou que eram melhores. No entanto, ambos sabiam que já não gozavam da profunda experiência que Adão e Eva possuíam com Deus.

As más ações dos dois povos davam-lhes a certeza do afastamento de Deus que possuíam. Ambos estavam na região da morte, pois estavam afastados de Deus, que é Vida. Mortos não se relacionam, por isso, os homens não conseguem se relacionar.

Deus mostra nessa realidade que sem A Vida, que é Ele mesmo, os homens habitam na morte e, por isso, seus relacionamentos são mortos, pois se baseiam no orgulho de quererem mostrar que são santos e não de ajudar os outros a serem santos.

Samaria era um dos caminhos mais curtos para se chegar a Judéia. É esse caminho que Cristo percorre e cansa-se. Percebe-se em Cristo a plena concórdia que existe entre Sua Humanidade e Sua Divindade, diferente da humanidade decaída tanto dos judeus quantos dos samaritanos que eram inimigas do Divino.

No Monte Tabor, Cristo esconde sua humanidade, sem diminuí-la, em sua Divindade. Mostra-se Onipotência. Contudo, no caminho à Judéia, sua divindade, sem ser diminuída, esconde-se em sua humanidade. Mostra-se necessitado: cansado, sedento e faminto.

Jesus tem sede. Por causa desta sede o diálogo com a samaritana acontece, antecipação do momento da Cruz, em que Cristo declara ter sede e, por causa dela, o homem volta dialogar com Deus. A sede de Cristo sacia a sede da alma humana de Deus.

Do alto da Cruz e do lado aberto de Cristo sai a água que sacia a alma humana sedenta de Deus. Esta água é o Batismo que faz com que o homem sacie a sua sede de Deus, voltando a Vida, o próprio Deus.

É do Batismo vivido que o homem pode resolver seus problemas de relacionamento, pois através deste sacramento Deus derrama seu amor (Cf. 1Rom 5,5)  em seus corações fazendo-os de inimigos, amigos, pois gozam da paz com o Autor da Paz.

Mais uma vez Deus surpreende, como surpreendeu o povo do Egito, mostrando que a solução dos problemas não está só aqui em baixo, na terra, mas começa Nele que viverá no homem se este último quiser viver a graça batismal.

Jesus tem fome. Afirma alimentar-se da vontade do Pai que é uma só: a salvação de todos.

O Pai quer ver todos os homens em Si, pois assim o homem terá Vida em abundância e será salvo. O Pai quer ter os homens para si, pois é Pai e não quer ver seus filhos mortos.

Do alto da Cruz e do lado aberto, derrama-se o sangue de Cristo. Este Sangue é a Eucaristia.

Se pelo sacramento do Batismo, Deus sacia a sede humana de Vida, com o Sacramento da Eucaristia cada homem inserido no Verdadeiro Homem, Cristo Verdadeiro Deus, mata a fome do mesmo Deus baseada em Seu desejo de estar junto dos homens.

Com a Eucaristia Deus é, de forma única, a intimidade do homem. Faz-se necessitado do homem de tal maneira, que Quer Ser nele.

Assim, o homem batizado, portanto, inserido em Cristo, sacia Deus, na Eucaristia. Deus e homem, juntos salvam o mundo, pois o atraem como a samaritana atraiu os seus.

Mais uma vez o povo de Deus encontra a resolução dos seus problemas em uma pedra, a pedra do altar que jorra Água para a Vida Eterna.

Fonte: Diácono Renato Gonçalves